tag:blogger.com,1999:blog-13316319422813124292024-03-13T11:55:29.172-07:00Melancholia Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.comBlogger60125tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-18089064759129273192016-07-01T09:15:00.000-07:002016-07-01T09:17:42.955-07:00Amargurar Eu não sei como me suportas<br />
Ranzinza, bronca, chata.<br />
Se te peço uma rosa,<br />
E tu me trazes um buquê,<br />
Eu cuspo e jogo de volta.<br />
E pode parecer torto meu amor<br />
Mas no fundo,<br />
Eu só estou lhe testando.<br />
Quero ver o quanto tu aguentas.<br />
<br />
<br />
No fim<br />
Quando tu fores embora<br />
Vou cair em prantos<br />
Cerrar meus olhos<br />
Desejarei não mais acordar.<br />
Quando tu partires, amor<br />
Vou me arrepender de cada gesto<br />
Vou procurar aquele velho buquê,<br />
Perdido entre as latas de lixo,<br />
O abraçarei mesmo em pedaços<br />
Cheirarei cada uma<br />
De suas pétalas mortas.Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-39408152012584990152015-11-13T06:57:00.001-08:002015-11-13T06:57:49.582-08:00Poema<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nós todos somos criaturas ansiando por atenção</div>
<div class="MsoNormal">
Gritamos sozinhas no escuro aguardando alguém nos ouvir</div>
<div class="MsoNormal">
Esperando uma voz que responda:</div>
<div class="MsoNormal">
- Eu estou aqui.</div>
<div class="MsoNormal">
Nós somos todos filhos da dor e dor medo</div>
<div class="MsoNormal">
Rezando baixo, clamando por amor</div>
<div class="MsoNormal">
Esperando que Deus nos diga:</div>
<div class="MsoNormal">
- Não se assuste, estou aqui.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nós somos todos escravos da esperança</div>
<div class="MsoNormal">
Mesmo sofrendo jamais deixamos de acreditar que algo melhor
está por vir</div>
<div class="MsoNormal">
Chorando alto pedimos clemência </div>
<div class="MsoNormal">
Dói demais estar aqui.</div>
<div class="MsoNormal">
Eu sou vazia e insegura</div>
<div class="MsoNormal">
Choro sempre, mas nunca deixo uma gota cair</div>
<div class="MsoNormal">
Perdida no escuro me sentindo estranha</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Queria , muito que alguém me notasse aqui.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-87690232864841258972015-11-11T07:07:00.000-08:002015-11-11T07:08:48.866-08:00Perfume<div style="text-align: justify;">
Cheirei o travesseiro e senti o seu cheiro. Tratei logo de ligar o ventilador e colocar o colchão na varanda. Fiz uma mandinga e coloquei a manta na máquina de lavar. Eu fiz de tudo para te afastar amor. Verdade seja dita, eu não te quero mais. Coisa ruim traz negatividade e você já empestou demais o ar por aqui.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu fui à cozinha preparar um café amargo, que é pra tirar o seu gosto da boca. Depois tomei um banho quente e demorado. Esfreguei a carne até ficar vermelha. Não quero marca nenhuma dos seus dedos em mim. Eu estava séria quando pedi para sair e desculpa se fui meio brusca, mal educada. Sei que não tinha o direto de jogar suas coisas pela janela e queimar o seu computador. Mas vejo as coisas deste lado, o lado que cansou de ser mal amada e iludida acreditando que tudo chegaria ao fim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pensando bem, eu mudei. Fiquei mais forte e amarga, a simples lembrança sua é algo que não consigo suportar. Para te apagar queimei todas suas cartas e fotos. Desinfetei os quartos, a cozinha, a sala com água sanitária e defumador. Se pudesse até sumia com você do mundo. Te apagaria sem problema algum. Você desapareceria dos registros funerários, das noticias e dos jornais. Por mim você nunca teria existido. Tudo para não cruzar com você por aqui.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pra não falar que não avisei, toma cuidado. Você sabe os horários em que vou para academia, sabe onde eu como e quando durmo. Sabe bem a placa do meu carro, eu iria detestar te atropelar por aí. Ter que limpar os seus pedaços do para-choque daria muito trabalho, coisa que você nunca mereceu vindo de mim. Podia sim ter uma morte maldita, digna dos filmes péssimos de terror que me obrigava a assistir. Por mim você não merece nada. Era só isso que queria te contar, só para o caso de precisar saber.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-43575644404026227412015-06-10T12:38:00.001-07:002015-06-10T12:41:20.684-07:00Bagunça<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span>Você tropeça pelos trapos de si mesma, largados no chão. Sua alegria embolada com umas peças de roupa suja, ao lado de uma montanha de problemas. Bem em sua frente você vê a pilha de louça suja se amontoando e junto dela sua tristeza, o ralo que está entupido trasborda e lá está você enxugando aquela bagunça toda. A tristeza transbordando pelo chão se mistura com suas lágrimas. <br /> Você pega o pano de chão, seca aquilo tudo e espreme no balde. No caminho que droga! Você tropeça na agonia, lá vai aquela bagunça toda se esparramar novamente. Tudo isso dá uma canseira e você senta no canto do quarto junto de seu colchão. Ele está estufado com as noites mal dormidas, com a insônia e os pesadelos intermináveis. Acabou por não sobrar espaço para você e restou somente sentar no chão. O seu travesseiro está encharcado de suor. Aquelas lágrimas benditas que estão esparramadas lá pelo chão, também estão misturadas com o travesseiro. E você está destruída, e quem te vê acha você muito abatida. Seu sorriso amarelo não consegue disfarçar muita coisa, e as pessoas fingem se deixar enganar. É para não ficar feio. Já que você se esforça tanto para encenar essa mentira, é melhor fingir que acreditou.<br /> Não dá para ficar no quarto, nem dá para ficar na cozinha, a sala esta intransitável com aquelas pilhas todas e a sacada é só poeira e poluição. Mas você ainda tem aquele canto no armário. Pode se embolar com as peças de roupa que herdou da sua mãe. Elas ainda têm o cheiro de alento e de infância. Trancada dentro do armário você não precisa ver passar o tempo. Você pode fantasiar que ainda é dia, que a hora não passou e que quando sair ainda vai dar para terminar aquelas tarefas e depois concertar sua vida. <br /> Acontece que ela estagnou. Vivendo você virou em uma esquina com o destino, entrou num beco sem saída e quando notou, não conseguia mais voltar. Você virou e deu de cara com um monte de paredes, desde então você gasta a energia tentando sair daquela gaiola. Além da energia você também gastou suas unhas, que ficaram em carne viva por tentar escalar os muros altos, seus braços estão roxos e duros de tanto dar socos na vã esperança de derrubar as paredes. Até a cabeça você bateu sem resultado. Suas roupas ficaram puídas quando você juntou pedaço por pedaço para lançar uma corda e quem sabe sair dali? Mas não adiantou, e nada na sua vida tem adiantado. <br /> Eu sinto muito, não vai ser agora que vai ver o fim. Ainda tem muito trabalho a fazer. Mas eu não vou te obrigar sair desse seu lugar seguro, dentro do armário, abraçada nos suéteres da sua mãe. Pode ficar mais um pouco, e pode ficar o quanto precisar. Mas eu preciso ser sincera com você, um dia você vai ter que sair. Vai precisar limpar a bagunça, arrumar a casa, abrir as janelas e arejar o quarto. Vai precisar enfrentar seus medos e juntar toda a coragem do mundo. Você acha que não tem, mas ela está escondida por aí. Você é brava, valente, forte. Olha essa merda toda que aguentou até agora. Quem fala é a sua consciência. Eu não vou deixar você desistir tão fácil assim. </div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-35163816310090732162015-05-13T13:19:00.000-07:002015-05-13T13:19:06.213-07:00Reencontro <div style="text-align: justify;">
Dois anos passados desde que a moça sumira. O motivo era bem conhecido por Andrei. Ela deixara tudo muito claro na última visita, quando conversaram, namoraram e riram juntos na cama até tarde. No meio da madrugada ele acordou e tudo que encontrou foi uma carta e uma pulseira largada no tapete. A pulseira com a qual a presenteara no aniversário. Eu nunca quis julgar ninguém, mas neste caso me venho obrigado a falar que faltou garra e coragem ao nosso herói. Era muito claro para quem estivesse ao redor que ela era uma moça problemática, triste, precipitada, assustadiça, o tipo de pessoa que se assemelha a uma bomba relógio. Apesar de o tempo que tiverem de amizade e que passaram juntos ter amansado aquele coração vazio, era claro que ela partiria no primeiro momento que visse sua presença escurecer o futuro. Ela se via como um estorvo para Andrei. Na posição de nosso herói, eu não sei o que faria, mas essa não é minha posição nesta história e saber o que fazer é a obrigação dele. Foi com espanto que a encontrou sentada na cafeteria. Um passeio até a capital levou-o de volta a tirana que roubara seu coração. O que faltou no início veio de sobra no fim. Ele andou até a mesa dos fundos, pediu licença e sentou. Vamos agora observar a cena.</div>
<div style="text-align: justify;">
O rapaz senta e olha para a moça de olhos marejados. Ela pensa em esticar a mãos e retrai em meio caminho. Ele então estica seus braços e alcança aquelas trêmulas mãos. Ela cora, sorri e começa a falar. As palavras saem como sussurros, embaçadas pelos soluços e lágrimas que teimam em cair. O rapaz levanta, com movimentos de extrema mestria, muda de local e senta ao lado da moça, tudo isso sem soltar sua mão. Ele abraça e tenta confortar aquela mulher que agora desaba como uma criança. E ele sussurra palavras ao pé do ouvido. Tudo que se consegue escutar da cena é um belo e delicado "obrigada" que escapa dos lábios daquela pobre moça. E seus lábios molhados agora são calados, com um beijo terno e profundo toda a cena chega ao fim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<!--[if !supportAnnotations]-->
<br /><div>
<div class="msocomtxt" id="_com_1" language="JavaScript">
<!--[if !supportAnnotations]--></div>
<!--[endif]--></div>
</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-15037156303044112362015-05-08T05:08:00.000-07:002015-05-08T05:08:09.255-07:00Café<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foi com muita dúvida que Leonini entrou no café. Nunca andara por aquelas
bandas, mas a sede era tanta que ele se viu obrigado a entrar no
estabelecimento. Sentou em uma mesa de canto, notou como era um lugar duvidoso
e se contentou com o fato de que não demoraria muito. Veio o garçom e ele pediu
uma xícara de café. Enquanto esperava abriu o jornal que carregava e pôs-se a
ler. Foi com surpresa que indagou ao garçom o que era aquilo quando o mesmo lhe
entregou um envelope ao invés de uma xícara:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Isso é exatamente o que o
senhor pediu, uma xícara de café.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Você por acaso acha que estou
louco? Estou olhando nitidamente uma carta e não a porcaria de um café!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Mas Senhor, é exatamente do que
o senhor precisa, seu café.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Levantou então aos xingamentos, carregando o envelope e esquecendo o jornal.
Teria jogado fora se não contasse o seu sobrenome no remetente. “Ao Sr. Beloto”
era o que dizia, em seu conteúdo apenas o endereço da próxima esquina. Foi com
curiosidade que caminhou até a lá. Mal chegou, quando um camarada alto e
careca, com uma baita japona preta lhe abordou. Perguntou se ele era o Sr.
Beloto, ele acenou que sim. Recebeu de recompensa três tiros à queima roupa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na cafeteria, o <span style="background: white; color: #252525; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Ex.</span><sup style="bottom: 1ex;"><span style="background: white; color: #252525; font-family: "Arial","sans-serif";">mo</span></sup> Marcontes, dono da boca, questionava o garçom
o porquê do Sr. Beloto estar alegremente sentado em sua mesa, lendo o jornal e
tomando café em vez de estar morto. O garçom temeroso respondeu que entregara a
carta como exigido e que o vira seguir até o endereço.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sentado sem fazer a menor ideia de sua sorte, Tony Beloto apreciava o
café e se punha a par das notícias do dia, sabia que seria corrido.<o:p></o:p></div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-24866137187278140302015-04-15T10:58:00.003-07:002015-04-15T10:58:52.925-07:00Adeus<div style="text-align: justify;">
Respiro fundo e desço do carro. Há muito tinha ensaiado a coragem para ir visitar minha antiga rua. Eu sabia que ia ser difícil e um tanto complicado, todo aquele bairro carregava minha história. Foi naquela esquina que aprendi andar de bicicleta e está vendo aquele buraco mais à frente? Foi feito por mim. Eu e os meus amigos achamos uma boa ideia soltar um bombinha dentro de uma lata de concreto. Quando ela estourou a lata voou ao céu e caiu repleta de fúria. Destruí o gramado da dona Maria e fiquei de castigo uma semana. Hoje em dia não existe mais a casa e nem a dona Maria. O grama dela já partiu faz tempo, mas ainda tem o buraco. Acho que eles vão cobrir quando terminarem a fundação do prédio que estão construindo no antigo lote.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu caminho pelas pedrinhas em direção à porta. Minha mãe achava bonito um jardim gramado com caminho de pedras. Sempre sonhou com isso. Quando casaram meu pai fez a tal trila, encheu a fachada de grama e plantou umas florezinhas. Era a trilha de tijolos amarelos dela. Vivia repetindo o lema, igual à personagem do seu filme preferido. Acho que o nome dela era Dorothy. Minha mãe fechava os olhos e dizia: “não há lugar melhor que o lar”. Agora não tem mais ninguém em casa. Vão derrubar na próxima semana. Adiei o quanto pude, mas aqui estou pronto para me despedir. O fato é que não é tão fácil dizer adeus a nossa infância. Vir aqui me dá pesar e alegria, muito sentimento junto e misturado. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu fui feliz o quanto podia. Corri pelas quadras, atormentei os vizinhos como qualquer moleque. Joguei bola, briguei e bati. Foi aqui que conheci a minha primeira namorada, o meu melhor amigo. Minha história contida em um quarteirão. Meu lar também sempre foi feliz. Mesmo trabalhando feito um burro, meu pai arrumava um tempo para ficar em casa. A gente jogava baralho, assistia a um filme e comia pipoca. Nunca vi uma pessoa amar tanto alguém como ele amava a minha mãe. Ela era a luz da nossa casa. Iluminava toda a família. Não importa quão ruim e miserável tinha sido seu dia, era só chegar em casa que ela espantava o desanimo e colocava a alegria no lugar. O sorriso dela curava tudo, e ela nos amava muito. </div>
<div style="text-align: justify;">
Nunca foi o plano dos meus pais vender a casa, mesmo com o novo complexo de imóveis surgindo. Mas aí veio o câncer e tudo mudou. Minha mãe morreu, sofreu muito e eu nunca vou entender qual foi o sentido disso. Por que uma pessoa tão boa e pura tinha que morrer justo de câncer? Ela não merecia, aliás, ninguém nunca mereceu. Meu pai não aguentava nem chegar mais perto da casa. Ele ficou um inferno. Ranzinza o tempo todo. Ninguém mais o aguenta lá em casa. Tive que vir fazer a mudança, assinar os contratos da venda do imóvel, resolver tudo sozinho e agora eu estou aqui. Vasculhando para ver se não ficou nada para trás. Dando até mais a minha infância. Despedindo-se de minha mãe. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu entro pela porta, subo as escadas e visito o meu antigo quarto. Ainda tem as marcas dos pôsteres que ganhava de brinde no fliperama. Tem também as marcas das figurinhas de jogadores de futebol que colecionava. Colava elas na parede rente a cama. Minha mãe ficava para morrer com isso. Visito o quarto dela. As paredes continuam no mesmo tom rosado. A tinta desbotou um pouco com o passar dos anos, mas mesmo assim continua intacto. Minha mãe tinha essa mania em manter a casa bonita. Ela dizia que a casa tinha que ser alegre, colorida, cheia de porta retratos, enfeites de galinha na cozinha é um monte imãs no quadro de recados.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu desço as escadas, dou uma olhada rápida na cozinha, vejo se na sala está tudo bem. Saio pelos fundos, olho a garagem. Não tem mais nada lá. Volto para a sala e percebo algo estranho. Tinha alguma coisa ali no chão, perto da janela. Recolho e é um retrato meu e de minha mãe. Nós dois abraçados no gramado, ao fundo a trilha de tijolos dela, as flores do quintal e a grama do jardim. Ela sempre foi linda, nem a doença levou isso no final. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não consigo mais segurar. Sento no chão, sozinho naquele lugar vazio. É a primeira vez que choro a morte da minha mãe. Eu não tive muito tempo para chorar, fiquei forte e lidei com tudo. Fiz esse favor para o meu pai, alguém tinha que cuidar das papeladas, da funerária, do caixão, do enterro e agora da casa. Respiro fundo e levanto. Seco os olhos na manga da camisa. Ajeito os ombros, bato a poeira da roupa e pego o retrato. Fecho a casa e vou para o jardim. Hora de ir. Adeus.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-61864509583913465312015-04-13T07:48:00.000-07:002015-04-13T07:48:35.884-07:00Túnel <div style="text-align: justify;">
Três dias preso. Três dias trancado neste buraco. As pessoas já começam a ficar raivosas. A fome e a sede tiram a razão de qualquer um. Na noite passada ouvi gritos, tinham pessoas desesperadas chorando. Uma mulher desapareceu. No primeiro dia a coisa era diferente, todo mundo se apoiava. O plano era ajudar uns aos outros. Mas não adianta, a fome e a sede engolem a sanidade de qualquer um.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu estava indo ao trabalho, era uma manhã normal de segunda. Acordei atrasado e fui desesperado pegar o ônibus. Passei pela mesma estrada que pegava todo dia, nem suspeitei quando entrei no túnel. Um estrondo, desespero e o fim. Tudo desabou. Teve carros e pessoas esmagadas, mas uma clareira se formou e os que sobraram ficaram presos afinal. Eu fiquei sem reação. Ninguém sabe o que fazer nesses momentos extremos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quarto dia e agora as pessoas se agridem. Dois irmãos que sentavam ao meu lado no ônibus brigaram de manhã. Discutiram por causa da namorada do mais velho. Um matou o outro com uma pedrada. Assisti tudo atônito. A verdade dos relacionamentos cai em face ao medo. Não sei o que vai ser do próximo dia.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quinto dia. Acho que não vou durar muito mais. A fome e a sede me deixam acabado. Eu tento, mas mesmo respirar dói. Meu peito queima. Acho que amanhã vejo a morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sexto dia. Ouvimos mais um estrondo, me pus a rezar. De noite uma senhora e uma criança morreram de fome. Não é outro deslizamento. São os bombeiros. Finalmente veio alguém nos ajudar. Primeiro veio o som da broca e depois fiquei cego pela luz. Ela veio do fim do túnel para anunciar que haveria outro amanhã. Não sei se sinto alívio ou medo. Nunca mais serei o mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-56784741187426934152015-04-11T06:39:00.001-07:002015-04-11T06:39:25.549-07:00Apartamento 202<div style="text-align: justify;">
Está um bocado vazio aqui dentro. E eu falo vazio, não só dentro desta casa, mas também dentro deste peito. Meu peito. Também estou muito cansada, essa paz toda não rende. Ela me prende, sufoca, grita em meus ouvidos. O grito mais ensurdecedor do mundo é o grito do silêncio. Corta como faca.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não queria essa vida. Não queria morar nessa casa. Não sei o que deu na cabeça me estabelecer em um tradicional bairro de família. Eu gosto do estouro, do tumulto, da carne sangrando e da vida fluindo. Mas eu vim parar aqui. Você avisou e agora digo que teve razão. Estou vazia. Entediada. Odeio isso</div>
<div style="text-align: justify;">
Minha vida tem se dividido entre trabalho, casa, mais trabalho e no final eu esperando por você. Passo o tempo contando os dias até você vir me ver. Você é o único agito que existe agora. A única razão de viver. O sol está batendo na janela. Tão quente que acho que vai derreter as paredes, o prédio eu e o mundo. O bairro é realmente bom e seguro. Em pleno fim de semana e só escuto as cigarras. Também ouço o sol rachando. Você vem logo não é?!</div>
<div style="text-align: justify;">
No outro fim de semana esperei e esperei. Isso continuou o tempo todo. Na sua casa ninguém atende. Sua família não fala onde você está. Acham que me enganam dizendo que eu deveria entender. Seu irmão me passou o endereço errado de novo, tenho certeza que não me quer ver encontrando você. Essa semana tentei seguir aquele papelzinho que ele passou, tentei ver se dava em outro número. Vai ver o seu irmão errou. Mas não adiantou, acabei parando no mesmo lugar. Não sei a graça que ele viu em me dar o endereço de um cemitério.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-22292287812864109682015-04-11T06:21:00.000-07:002015-04-11T06:21:00.098-07:00Aurora decide passear <div style="text-align: justify;">
Aurora resolveu caminhar em direção ao carvalho. Estava farta de mais uma vez ouvir seus pais brigando e discutindo sem parar. Afinal, por que eles estavam discutindo enquanto levavam a filha para passear? Não era justo as coisas serem assim, logo ela que se esforçava tanto em ser uma boa menina, ser educada, gentil e estudiosa. Não havia motivos para viver tão maltratada. Sempre entregava a lição de casa em dia, cuidava muito bem de seu gatinho, em casa ficava quietinha enquanto lia os livros que herdara da avó. Sempre mantinha seu quarto arrumado. Era tão boa garota. Tão exemplar. Os pais de seus colegas sempre a elogiavam por ser tão educada e bonita. Mas parecia que seus pais não viam nada disso. Discutiam e gritavam, esqueciam por completo a presença dela até lembrar, no meio da madrugada, que tinham uma filha e que a mesma deveria estar com fome, já que se esqueceram do jantar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao se aproximar do grande carvalho, estranhou a presença de uma enorme borboleta. Grande e de cores vistosas, pousada sobre uma bela orquídea. Era a maior borboleta que já tinha visto. Passear pelo parque da cidade era um de seus passatempos favoritos depois de ler. Adorava ver flores, árvores e ficar perto da natureza. Lembrou então de um livro que encontrara entre a biblioteca da avó. Nele uma menina passeava pela floresta quando, de repente, encontrava uma fada que lhe concedia desejos. Quem sabe não poderia ser real tudo isso? Pôs-se a seguir a criatura esperando que, se fosse uma fada, pediria como desejo pais novos. Melhor, só pediria que seus pais fossem diferentes. Não queria ser neta de outra avó e nem morar com outra família. Não teria os livros e nem teria o Mimi. Pensando nele, ainda bem que não estava com o gato, ele provavelmente já teria pulado na pobre borboleta. Na perseguição, acabou por rastejar entre uns arbustos retorcidos, seus cabelos de tão compridos se prenderam várias vezes nos galhos. Ela nem ligava, era uma excelente aventura. Seguiu a borboleta até por fim encontrar um lago. Era lindo. Flores se estendiam como um tapete ao seu redor. Mas era um bocado esquisito. Nunca tinha visto um lago por ali.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-87901422858783500642015-04-11T06:18:00.002-07:002015-04-11T06:18:36.191-07:00SegredosSegredos sussurrados<br />Escondidos debaixo do cobertor<br />Soprados em silêncio no ouvido<br />Palavras vazias que ganham sentido<br />Parecem outras quando vazam da boca<br />Mentiras verdadeiras<br />Que nunca seriam ditas se não fosse no escuro<br />Arrepio subindo pela espinha<br />Subindo pela coluna e terminado em suspiro<br />Um abraço cúmplice <br />Um juramento tantas vezes proferido<br />Vindo da boca de tantos amantes<br />Um beijo sela o trato<br />Estes segredos não vão sair desse quarto<br />Ficarão sepultados em nossos peitos<br />E também nessas quatro paredesBia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-55764576906335566062015-04-10T07:48:00.002-07:002015-04-10T07:48:32.737-07:00Maria Maria viveu a vida toda sendo só um adorno. Era bonita e isso realçava bem a casa de seus pais. Era de boa família e isso caia bem para os pretendentes. Acabou casando porque assim queriam, foi ser um adorno em outro lugar. <br /> Nunca teve opinião própria porque não era desejado. Balançava a cabeça concordando com o que era dito e isso a transformava em boa companhia. Não tinha muita fibra, muita alma. Quando não estava enfeitando ao lado de alguém, era esquecida. Sua desgraça era tanta, que até os filhos que teve olvidavam freqüentemente que tinham mãe.<br /> Os anos passaram, a vida se extinguiu. A casa ficou vazia, só sobraram os móveis, os quadros e ela. Se olhasse rápido nem ia perceber aquele bibelô de pessoa, encostado na janela, parecendo uma boneca. <br /> Maria morreu com a sua sina. Quando todas as criaturas vivas partiram, esqueceram que ela também estava viva. Passou o resto dos seus dias definhando na casa. Não comia, não dormia. Ao final definhou e ficou empoeirada como a mobília. <br /><br /> <br /><br /> Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-50142609534087408822015-04-10T07:39:00.000-07:002015-04-10T07:39:04.862-07:00Oca<div style="text-align: justify;">
Se você olhar bem no fundo dos meus olhos vai perceber que tudo não passa de uma máscara. Dá para enxergar as rachaduras, ela está se rompendo. O sorriso nunca soou tão falso ou tão difícil, a gentileza nunca pareceu tão forçada. </div>
<div style="text-align: justify;">
Caso se concentre, vai conseguir ouvir o vazio vindo de mim. Por dentro estou oca. Não tem muita coisa sobrando ao final. Sou como um espantalho, feito de feno e de pano, sem órgãos ou sentimentos, sem sequer um coração. </div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo não passa de mera ilusão, tudo que é feito é só para servir as convenções. Cuidado ao encostar-se a mim, qualquer esbarrão pode quebrar a casca toda. Vou desmanchar e vão sobrar só cinzas no fim.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-69217735998158754352015-04-10T07:35:00.002-07:002015-04-10T07:35:50.470-07:00O fim<div style="text-align: justify;">
O mais difícil era aceitar. Aceitar que o tempo passara e que as coisas mudaram. Que não eram mais as mesmas pessoas. O complicado era admitir que ambos haviam crescido em direções opostas e que os sonhos, antes compartilhados, agora se diferiam completamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
A dificuldade advinha em entender que todo aquele tempo, vivido junto, jurado de morrer lado a lado, havia chegado ao fim. Não passavam de dois desconhecidos, morando sob o mesmo teto, sem ter o que conversar. Absolutamente nada em comum.</div>
<div style="text-align: justify;">
Era um desafio acordar cada manhã e olhar para a pessoa deitada ao lado sem se perguntar 'O que aconteceu com você? Como ficamos assim?', era também um desafio não se culpar nem culpar ao outro pelo ocorrido. O tempo passa e a vida vai junto. Nem sempre o que começa igual termina do mesmo modo. De vez em quando a gente tem que encarar o fim.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-74076120772182117282015-04-09T11:53:00.001-07:002015-04-09T11:54:06.353-07:00Balé Corria em direção ao estúdio com toda a velocidade que podia. Ia em direção ao seu refúgio, o único lugar que fazia se esquecer de tudo. Virou a esquina, atravessou a faixa de pedestres, o sinal em vermelho e parou em frente a uma porta de vidro. No alto liam-se as palavras "Estúdio de Balé Cassius Bergini". <br /> Tocou o interfone, esperou alguém atender e abrir a porta. Subiu as escadas escuras em direção à recepção. Falou com a atendente, cumprimentou quem encontrou no caminho e se fechou em uma sala. Eram só ela, o tablado, o espelho e as traves. <br /> Ligou o rádio e deixou-se envolver. Alongou os músculos, os braços e as pernas. Relaxou com o som das caixas de som. Começou então a dançar. Sem seguir nenhuma coreografia nem nada planejado, era apenas o corpo dela respondendo a música. Sentia nos ossos as notas musicais. Expressava com o corpo o que a alma dizia. A cada passo se esquecia da dor, dos problemas, das contas chegando, dos atritos no trabalho. Esquecia-se de tudo e no final nem lembrava mais o que a tinha trago até ali. Era feliz. Só alcançava a plenitude quando podia dançar pelo salão. Entre pliés e tantos passos de balé, finalmente se sentia viva. Dançou até o mundo sumir. Até seus pés sangrarem dentro das sapatilhas e a dor impedir de dar um movimento a mais. Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-20706158835532243782015-03-27T07:29:00.001-07:002015-04-11T06:21:47.015-07:00Hoje você deu seus primeiros passos<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span>Hoje você deu seus primeiros passos. Começou caminhando meio trôpego, se apoiando em mim, tentando levantar e seguir sozinho. Você caiu um bocado de vezes, mas nem chorou. Sacudiu a poeira do corpo, escorou na parede, levantou e voltou a caminhar. No fim do dia não precisou mais de apoio. <br /> Foi um pouco triste no final porque pude avistar o futuro, um dia você vai caminhar por aí sozinho e não vai mais precisar de meus conselhos, do meu apoio e de mim... Eu não vou ser mais a pessoa para quem você corre quando tem medo, você vai seguir sozinho. Vou ser só a sua mãe. <br /> Espero que a determinação que você apresentou hoje nos seus primeiros passos siga com você para o resto dos seus dias. Que toda vez que a vida te derrubar você saiba reconhecer o erro e, sem reclamar ou chorar, levante e mostre do que é capaz. Eu rezo para que você realize seus sonhos com a mesma força que usou para realizar os seus primeiros passinhos.<br /> Você agora é só uma criancinha pequena, um dia vai entender o que eu falo. Quando você falhar pela primeira vez e o mundo te virar as costas, vou estar aqui. Vou continuar acreditando no seu potencial, serei o seu porto seguro se quiser, e vou torcer muito como agora torci quando você cismou de levantar e andar até o quintal. <br /> Eu te amo muito filho. Você sempre será o meu orgulho. Estarei sempre aqui quando você precisar de mim. Até quando você for velho e cansado, quando precisar, não do meu apoio, mas de uma bengala para acertar seus passos. Estarei sempre aqui te estendendo à mão, mesmo depois de partir.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-36911585693819621172015-03-26T07:44:00.002-07:002015-03-26T07:46:34.735-07:00Estrelas A luz acabou hoje na cidade, lá fora está tudo escuro. Talvez minha vida seja assim: negra, medonha, vazia. Não tenho mais nada para fazer em casa. Eu acabo começando a pensar. Penso em mim, nas coisas que vivi. Os momentos bons e principalmente os ruins. Acho que quando a luz se foi levou embora toda a esperança. <br /> Quando eu era pequena, costumava temer o escuro. Minha mãe vinha e me abraçava, dizia que ia ficar tudo bem, que eu podia deitar ao seu lado. Papai era diferente, não gostava de me ver ali. Eu chorava e me arrastava quietinha para o pé da cama, deitava no chão e rezava para ele não me mandar de volta para o quarto. <br /> Foi desde muito cedo que eu aprendi que às vezes as pessoas simplesmente não gostam de você. Eu pensava que se mudasse, as coisas iriam melhorar, era só eu ser do jeito que elas queriam. Entretanto aprendi a partir disso que não adianta mudar pelos outros, você só se torna mais estranha e deprimente. E continua sozinha. <br /> Fui caminhando assim. Os outros riam de mim, eu ria então de mim mesma. Melhor que chorar. Mas o tempo foi passando, não era mais o fato de ser esquisita, era também se ser feia, e chata, e o que eu já nem sei mais. Eu nunca entendi o porquê de ninguém gostar dos estranhos. O que tem de mal em ser diferente?<br /> Os anos passavam, uma amizade surgia ali, outra depois se perdia. O casamento dos meus pais que achava lindo e que iria durar para sempre acabou. Ficamos sozinhas. Papai nem veio para dizer adeus. Os anos correm. O ciclo continua. Acompanhada, sozinha, sozinha, amigos, estranha, sozinha, esquisita, gostamos de você, pensando bem não gostamos... Quando vi, ficou tudo vazio. Eu tinha um sonho? O que eu queria quando criança? Eu consegui alguma coisa com tudo isso? Eu estou chegando a algum lugar? As perguntas perturbam. Você se acha incapaz. A pior parte de a vida ser um ciclo, é que você nem estar sempre vai estar no alto. Uma hora as coisas viram e você acaba no chão. <br /> A luz partiu. Ficar em casa estava me matando. Para fugir dos meus pensamentos, corri para a rua. Surpreendi-me, as estrelas brilham mais do que o sol. Acho que entendo um pouco no final. Se nunca existisse a dor e o escuro, nunca veríamos como são belas as luzes da noite. Talvez as coisas melhorem um dia. Quem sabe, por minha vida estar agora tão negra, eu finalmente veja a luz.Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-34664983368986546052015-03-26T07:19:00.000-07:002015-03-26T07:45:53.920-07:00O sol se pôr<br /><br />Eu uma vez vi o sol se pôr<br />Era tudo tão bonito <br />De longe eu avistava as cores mudando<br />Amarelo, vermelho, laranja.<br />Eu tinha você ao meu lado<br />Naquela época era tudo mais possível<br />Sonhos se multiplicavam <br />Eu chorava, ria, amava<br />Vivia e via a vida ressoar<br />Vibrando como as cores do pôr do sol<br />Queimando em toda magnitude.<br />Hoje estou sozinha <br />O sol já se pôs e eu perdi todo o espetáculo.<br />Não vivo mais de amor e de poesia<div>
Nem sei mais se sei viver.</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-41155724644063967892015-03-26T07:13:00.000-07:002015-03-26T07:13:29.068-07:00Susana<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Era um dia nublado
e Antônio estava caminhando devagar, atrapalhando as crianças que andavam de
bicicleta na calçada. Ao sair da escola, no dia anterior, ele havia encontrado
um caderno jogado no chão, bem no funda da classe. Ao pegá-lo como intuito de
descobrir o dono, viu que se tratava de um caderno repleto de poesias e
citações famosas. Também tinha algumas histórias e colagens. Não havia nada que
denunciasse o dono, mas logo desconfiou de quem poderia ser: Susana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fazia séculos que
ele observava Susana, ela que sempre era uma menina quieta e soturna. Passava o
tempo todo da aula escrevendo ou lendo qualquer coisa que não fosse referente à
matéria. Ela sempre sentava ao fundo da classe, na cadeira do canto esquerdo,
perto da janela. O caderno jogado ali definitivamente era dela. Apesar de ter
vergonha de assumir, Antônio já havia perguntado uma porção de coisas sobre a
menina para os outros, sabia tudo o que era possível saber sobre Susana. Onde
ela gostava de sentar no recreio, os livros que ela pegava na biblioteca, as
notas que tirava e inclusive seu endereço. O local de sua moradia foi arrancado
de uma das meninas da classe que tinham marcado um dia de buscá-la em casa para
realizarem um trabalho juntas na biblioteca. Ele não podia evitar, era o seu
primeiro amor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele então estava se
dirigindo para lá. Acordou mais cedo no sábado, arrumou-se e treinou na frente
do espelho as palavras exatas para usar. Ainda que nervoso, sentia-se corajoso
o suficiente para realizar a empreitada. Quando chegou ao exato número tocou a
campainha. Não tardou muito uma menina alta e magra, de compridos cabelos
negros que desciam até abaixo da cintura e uma pela branca como porcelana
atendeu. Susana sempre o deixava nervoso. Ele gaguejou o que tinha vindo fazer
ali e ela perguntou se queria entrar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Desculpa a intrusão,
mas é que achei esse caderno na escola e desconfie que fosse seu. Não quero
incomodar, já vou indo.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Não se preocupe,
não vai ser incomodo ter você aqui.” Ela então o guiou por um corredor escuro,
repleto de fotografias e quadros nas paredes. “Vai, entra aí”, falou apontando
para um cômodo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Esse é o seu
quarto?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“É sim. Sei que é
meio esquisito, mas gosto dele desse jeito.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O quarto parecia um
lugar fora do universo. As paredes pintadas de preto repletas de frases em
prata. Aos fundos um mural de imagens de uma menina com um coelho branco,
depois a mesma menina conversando com um gato no alto de uma árvore. Imagens de
uma garota entalada em uma casa com os braços se projetando pelas janelas, essa
menina se repetia em diversas imagens e ocupava toda a parede aos fundos do
quarto. Dividindo a decoração se via uma estante repleta de livros e ao lado
uma escrivaninha pequena com a foto de uma bela mulher. Essa mulher era uma
versão mais velha de Susana, linda e sorridente. Junto do retrato havia flores
e alguns livros. Em pequeninos porta retratos se via a foto dessa mesma mulher
abraçada em uma menina, que muito podia ser confundida com a Branca de neve de
tão branca com bochechas vermelhas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Olha aquela moça
ali é sua irmã?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Não, ela era a
minha mãe.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Poxa a sua mãe é
bem bonita. Ela trabalha com o que?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Ela morreu quando
eu tinha 10 anos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tudo que Antônio
conseguiu fazer foi manter o silêncio. Respirou fundo e tomou coragem para
retomar a conversa e tentar consertar o constrangimento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Desculpa não quis
te... Quer dizer sinto muito.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Tudo bem. Eu sei
que não fez por mal.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Você tem um quarto
bem bacana com essas imagens e esses livros e aquela frases ali.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Obrigada. Esses
eram os livros favoritos da minha mãe, e aqueles dali na mesa são os que ela
escreveu. Ela era escritora. Eu deixo no canto como se fosse um altar para ela.
São o bem mais precioso que tenho. Quanto as frases, são citações famosas que
minha mãe deixava marcada nos cadernos dela ou nas páginas dos livros. Já as
imagens são desenhos do Alice No Pais da Maravilhas, era a nossa história
favorita. Fizemos essa colagem quando eu era criança. Eu não quis apagar quando
ela morreu mas tirei as paredes alegres cor de rosa e pintei de preto para mostrar
o meu luto.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Você era bem
ligada com sua mãe não é?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Éramos melhores
amigas...”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“É por isso que
você é sempre tão quieta na escola e está sempre com uma cara de choro?” ela o
encarou com os olhos arregalados, “Olha desculpa, não queria me intrometer.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Ok, sem problemas.
Sim eu sinto muita falta dela, acho que isso teve um reflexo negativo no meu relacionamento
interpessoal, ou pelo menos foi o que a minha médica disse. Minha avó fica
maluca de me ver pra baixo e me obriga a fazer sessões de psicanálise há uns
três anos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Que merda.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Pois é.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Você mora com
ela?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Não eu vivo com
meu pai. É meio difícil encontrar com ele por aqui, ele foge de mim, da casa e
de qualquer coisa que lembre a minha mãe. Já eu sou o contrário. Enquanto ele
foge de tudo eu virei uma obcecada pela memória de minha mãe.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Se é o seu jeito
de lidar com o luto eu não vejo nada de mal nisso.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Tirando que é um
luto meio prolongado... minha médica disse que preciso fazer amigos, e o meu
pai está me atormentando por isso. Ele ameaçou jogar as coisas dela fora se eu
não mudasse, então deixei meu caderno de propósito e prometi para minha mãe que
faria amizade com a primeira pessoa que o encontrasse. Ainda bem que foi você e
não nenhuma daquelas meninas chatas.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Que bom. Eli umas
coisas do caderno então desculpa. Péssimo início de amizade.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Tudo bem não era
nada secreto mesmo. É o meu caderno de inspiração e treino. Eu quero um dia ser
escritora como a minha mãe. Se eu ficasse com raiva de alguém ler seria um péssimo
início de carreira, no futuro eu vou ser lida e criticada mesmo não?!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Achei tudo muito
bom. Meio melancólico pro meu gosto, só que bacana. Vai fazer sucesso um dia,
principalmente entre a galera deprimida e gótica.” <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Susana então riu,
e Antônio percebeu que era a primeira vez que via essa garota sorrir. Fez então
uma promessa mental de nunca mais deixar essa garota sofrer. Ele prometeu ficar
do lado dela e acabar com toda aquela tristeza e solidão que a mãe causou a
partir.<o:p></o:p></div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-34483846145718911412015-03-24T11:15:00.000-07:002015-03-24T11:15:24.623-07:00Monstros<div class="MsoNormal">
- Mas mãe, eu não
quero dormir no meu quarto!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Não tem mais
desculpas Pedro, você já vai fazer sete anos. Já é um mocinho, não pode mais
dormir com a mamãe e o papai.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Mãe, os monstros
vão me pegar. Eles querem me levar embora. Eu tenho medo!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Chega disso
Pedro. Escute sua mãe. Acabou essa choradeira, você vai dormir no seu quarto.
Não quero ouvir mais nenhuma palavra desse assunto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Foi assim que se
iniciou a noite na casa dos Nogueira. Mais uma vez seu filho reclamava de
dormir no seu quarto, mas Alberto já tinha decidido por um fim nessa história.
Desde os três anos, quando Pedro havia deitado pela primeira vez em um quarto
novinho e só seu, ele chorava e ia dormir com os pais. Era sempre a mesma
história. Monstros se escondiam no escuro e diziam que o levariam. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Foi na primeira
noite dos três anos que os pais de Pedro acordaram pela primeira vez assustados
com barulho do filho gritando e esmurrando a porta. O menino se encontrava assustado,
chorando e com a roupa manchada de sangue devido a um machucado no cotovelo.
Por todos esses anos eles evitaram então deixar o menino sozinho, entretanto
depois que a terapeuta havia dito ser importante ensinar o garoto a enfrentar
seus medos, concordaram em insistir no assunto do quarto. Arrastaram então
Pedro e trataram de fechar a porta com chave para o menino não fugir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Foi uma noite
agitada, escutaram o menino gritando, mas a dureza de Alberto não permitiu que
sua esposa regatasse o menino. Quanto mais a criança batia na porta e pedia
para sair, maior era a resolução do pai. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Na manhã seguinte
quando abriram a porta do quarto depararam com um cenário de guerra. Todos os
brinquedos e roupas estavam espalhados pelo chão, à cama se encontrava revirada
e havia sangue no edredom. Contudo, o mais assustador foi o vazio do local. Não
se avistava criança alguma, apenas marcas de unha de alguém que outrora se
agarrara a porta. <o:p></o:p></div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-87274750823866854492015-03-21T06:14:00.000-07:002015-03-21T06:15:07.648-07:00Mentiras<div style="text-align: justify;">
Eu te amava muito, mas você me traiu e me abandonou, e agora tudo o que eu tenho é essa casa vazia para me fazer companhia. Tudo que vejo ao meu redor é dor. Tem tristeza entalhada nessas paredes. O vento entrando pela janela me assusta. A sala vazia me dá calafrios. A cama agora parece um país inteiro. Tão enorme e tão fria. </div>
<div style="text-align: justify;">
O que mais dói não é ter confiado em você, por amor a gente sempre confia. O que mais machuca é você ter quebrado tudo, mentido e nem voltado para pedir desculpas. Me deixou aqui sem ar, sem teto, sem rumo, mas eu vou seguir em frente. Eu sou uma mulher forte, mesmo sozinha. Eu tenho pernas para caminhar, mesmo não tendo mais o futuro que a gente dividia. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu consigo seguir em frente quebrada. É só colar tudo e ir. Para onde vou é que não sei. Eu costumava saber, mas agora me parece uma grande mentira. Tudo bem. Você decidiu acabar com tudo, fingir que nada aconteceu. Você virou outra pessoa. Eu fiz de tudo para te acompanhar, para crescer com você, mas você decidiu que era melhor uma vida em que eu não estivesse junto. Preferiu acreditar que o caminho era mais livre sem alguém do seu lado, preferiu acreditar que ia ser mais feliz sem mim. </div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo bem. Eu já vou. Eu fico com a casa vazia, com os CDs que ninguém quer, com os móveis usados e com a tevê velha. Você pode levar o do bom e do melhor. Pode ficar com o dinheiro, com a liberdade, com o orgulho. Eu luto e reconquisto tudo de novo. Vai doer para sempre e a ferida nunca mais vai sumir, mas eu consigo. Então adeus, você não ficou para ouvir minhas despedidas, mas vou acenar até você sumir. Depois eu viro junto os trapos e sigo com a vida</div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-67271057549462792622015-03-20T08:00:00.000-07:002015-03-20T08:00:01.531-07:00A maior aventura<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Você não acha que viver é a maior aventura do mundo?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Hã? Mas que assunto para essa hora!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Sério. Nós nascemos e somos jogados no mundo sem pedir. Temos que
crescer e desenvolver sem muita ajuda de ninguém. Não existe nenhum manual ou
explicação que nos diga como proceder. De vez em quando a gente se perde, erra
e tem que começar tudo de novo. Você tem que aprender a conviver desde criança
com um monte de estranhos e a encontrar o seu lugar no mundo. É uma aventura
descobrir quem você é. É uma aventura encontrar qual é o seu sonho ou propósito
na vida. Também é uma baita de uma aventura lutar por tudo isso depois. Sabe, é
difícil não mudar os seus valores ou ser corrompido enquanto a vida passa. Você
também não sabe nada sobre o amor, que sozinho é uma enorme aventura, até que
você se descubra apaixonado. Hoje eu acordei e pensei: ‘Como eu vim parar aqui?’
e a resposta dessa pergunta são as escolhas que fiz. Eu decidi sozinho, errando
bastante, até chegar onde estou. A melhor parte é que essa aventura só acaba
quando morremos. A gente é incrível, infinito, não existe nada que não possamos
fazer. Se você quiser mudar tudo na sua vida agora você pode. Nós podemos ser
quem ou o que quisermos. É ou não é uma aventura?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Pensando bem até que você tem razão, mas filosofar às sete horas da
manhã não é legal. Tô com muito sono para pensar nisso agora. Ah, aí vem meu
ônibus. Até mais Mateus, a gente se vê mais tarde.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Até e boa sorte na aventura.” <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Para de besteira e vai trabalhar.”<o:p></o:p></div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-37761429289913819542015-03-19T07:48:00.002-07:002015-03-19T07:48:47.577-07:00Terceiro andar<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Corri escadas acima desesperada. Tropecei nos degraus e quase caí.
Acabei torcendo um pouco o tornozelo, mas isso não me impediu, corri como se
não houvesse amanhã. Corri porque ao final de tudo estava a minha felicidade.
Eu corri como nunca tinha feito na vida, lágrimas caíam pela minha face, em meu
peito o coração parecia explodir. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cheguei ao fim do quinto andar, bati na terceira porta e esperei que ele
atendesse. Enquanto os segundos passavam, milhões de imagens surgiam na minha
cabeça. Nós passeando pela praça, indo ao cinema, abraçados em um dia frio.
Ouvia a voz dele me dizendo “eu te amo.” Eu ficava revivendo a minha resposta,
o silêncio. Na minha mente a imagem dele se afastando desolado não parava de
repercutir. O vazio que eu senti quando percebi que não haveria mais nós dois
gritava e me tragava. Eu só podia repetir “Não é tarde! Ainda não é tarde!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele então abriu a porta. Primeiro surpreso, depois calado. Eu tinha que agir,
falar tudo que queria. Dizer claramente o porquê de estar ali.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Desculpa vir tão tarde... eu tentei fugir, mas não consegui. Você disse
que me amava, não disse? Disse também que era a última vez que esperaria por
mim, não é? Sinto muito por demorar, mas é que eu não podia. Olha eu tenho esse
muro em volta do meu coração e ele é feito para não deixar ninguém se
aproximar, porque os outros podem me machucar. Eu já sofri muito. Eu sei que
você é diferente, você me mostrou isso tantas vezes mas é que eu tenho medo.
Mas quando você sumiu...Quando eu vi que não existiria mais nós eu sofri. Eu
não quero te comover para você mudar de ideia e não dizer que é tarde demais,
mas eu realmente chorei muito. Droga, estou chorando de novo. Você sabe que eu
odeio chorar! Certo! Eu quero ficar com você. Eu te dou meu coração, e te deixo
quebrar essa barreira que existe envolta de mim porque eu não tenho mais medo.
Você pode partir meu coração, eu deixo. Acho que ficar sem você dói mais.” Ele
não disse nada só havia o silêncio. “Droga diz alguma coisa. Por favor.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Deve estra meio frio aí no corredor e os vizinhos devem estar adorando
te ouvir. Quer entrar?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“É claro seu idiota.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Mas só deixo com uma condição: você tem que prometer ficar aqui para
sempre. E também quero ouvir você dizer aquelas três palavrinhas de novo.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Babaca! Tá bom, eu prometo!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“E...?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Droga, EU TE AMO.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Ok, agora pode entrar.”<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele então me abraçou. Nós dois choramos juntos, depois percebemos que a
porta estava aberta. Rimos juntos, fechamos a porta e no caminho da cozinha
acabamos nos beijando e caindo no sofá. Nunca senti tamanha felicidade. Agora
sabia onde ela tinha se escondera o tempo todo, bem aqui.<o:p></o:p></div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-62181825394203168402015-03-14T19:20:00.000-07:002015-03-14T19:20:08.387-07:00O dia em que vi um livro<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>*Antes de começar devo dizer que essa é uma cena de uma história que vem há muito tempo habitando minha cabeça. É sobre uma garota especial e sobre o mundo em que ela vivia. E fala também sobre como ela conseguiu mudar um monte de vidas. Vai parecer meio confuso porque é só uma cena dessa história toda mas decidi escrever para o desafio desse dia*</i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu caminhava pelas ruas da Grande Nação naquele dia. Havia acabado de
sair do Instituto de Ensino onde escutei por horas seguidas a mesma ladainha de
sempre. Coisas sobre como a união dos últimos países existentes, após a grande
guerra, havia originado o nosso Estado proporcionando alimento para as pessoas famintas,
maior justiça, igualdade... Sempre a mesma história. Eu era o único naquele
lugar que não acreditava muito no que ouvia. Toda a paz e prosperidade que
anunciavam nas propagandas me pareciam forçadas, além disso a cada dia cresciam
as denúncias de novos membros integrantes da resistência. Também crescia apreensão
de civis portando livros. A maior e mais perigosa arma de nossa época. Uma das
poucas coisas que o governo proibia. Se tudo era tão maravilhoso, por que tantas
pessoas se revoltavam?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu não sei o motivo de ter pego um atalho diferente ao voltar para casa.
Nem sei também o porquê de ter parado num beco esquisito e sem saída. A única coisa
que posso dizer é que esse fato mudou toda a minha vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Acabei me perdendo enquanto seguia por umas ruas aleatórias do centro da
capital. Parei em um beco sem saída, onde uma sombra me chamou a atenção. Me aproximei
por alguns metros e vi que a sombra se transformava em uma mulher. Ou melhor
uma menina. A verdade é que não vou saber dizer muito sobre ela. O seu rosto parecia
ser de um anjo. Tinha longos cabelos pretos e uma franja que caia sobre a
vista. Olhos profundos de quem conhecia toda a verdade sobre o mundo. Engraçado
que o mais atraente não era sua aparência, mas o fato de estar lendo um livro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“O que você está olhando?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Ah, não é nada. Me desculpa, já estou saindo é que entrei aqui. Acho que
me perdi mas não te vi lendo, quer dizer não estou aqui.”, acho que eu nunca
teria terminado de falar se não fosse o desespero acabar me fazendo cair ao
derrubar uma lata de lixo. Ela começou a rir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Você é engraçado. É estudante?”, foi o que disse enquanto olhava minha
bolsa, “Não entendo como alguém consiga acreditar naquelas bostas que ensinam,
mas você parece diferente. Você falou comigo. Você insinuou ter visto o livro.
A maioria das pessoas sai correndo ou não tem coragem de dizer o nome disto”
disse me mostrando o seu exemplar. A capa era velha, as páginas pareciam mais
antigas que o tempo. Como ela conseguira isso era um fato surpreendente. Me parecia
ser inofensiva demais para fazer parte dos revoltosos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Sem querer me intrometer mas isso é crime. Você deve saber que não pode
portar isso. Olha eu posso te ajudar a se livrar desse troço. Sei que deve ter
achado pelo lix...”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Eu não sou uma coitada que achou um livro no lixo. Na verdade tenho uma
biblioteca e tanto. Quanto a mim não se preocupe, eu sou grandinha e sei me
virar. Posso parecer frágil mas garanto que um policial não duraria um minuto
lutando comigo.” Eu engoli seco. Por essa não esperava. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foi quando o exterior nos atingiu. Eu estava tão hipnotizado por ela e
seu sorriso meigo, que era como se o tudo tivesse silenciado e parado para nos assistir.
Enquanto eu falava com ela, não existia mais ninguém no mundo. Do início da rua
um barulho da patrulha pois um fim ao momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Acho que fomos interrompidos. Vem por aqui.”, disse isso enquanto me
puxava pela camisa levando-nos até o muro, ela então empurrou uma caçamba de
lixo e revelou um bueiro. Descemos por ele e corremos pelas alamedas do esgoto
sem fim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Viramos por várias esquinas e tinha certeza de que tínhamos nos perdido
até que ela parou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Pronto! Não posso te levar mais longe do que isso mas aqui não vamos
ser pegos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Nossa, você corre bem... Arf... Mal consigo respirar... Acho que você
entende dos esgotos... Corre muito bem hein?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Respire fundo e depois fale”, ela então riu de novo, a coisa mais
mágica que já vi na vida. “Olha, eu não queria te causar problemas, e seria um
problemão se te vissem comigo, e não é só pelo livro. Eu gostei de você por
isso vou te avisar uma coisa. Cuidado com o que te dizem no instituto. Muitas mentiras
são mascaradas com umas palavras pomposas. Tem muito mais gente sofrendo por aí
do que no passado. Uma guerra enorme está rolando lá fora e ela está quase
chegando aqui. Quando ela atingir os solos dessa cidade dias negros virão. Se fosse
você pegaria sua família e sairia da cidade. Não sei para onde vão mas precisam
dar o fora daqui. É muito perigoso mesmo. Eles precisam culpar gente, sumir com
algumas pessoas, arrumar bodes expiatórios, inocentes vão ser atingidos nessa. Você
parece ser legal então espero que consiga se safar do problema. Toma, pode
ficar com esse livro aqui. É legal. Não precisa levar tudo o que diz ao pé da
letra mas ele ajuda as pessoas a terem fé. E também abre os olhos para a
realidade. Mas esconda bem, ok?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Uhum.” Eu não consegui dizer muita coisa. Acho que sua voz me
atordoava. Incrível como dois segundos após botar os olhos nela já estava
apaixonado. Incrível como tudo tinha cor e como eu, um medroso indescritível, agora
estava com um livro na bolsa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Pode subir por aqui, vai parar na avenida principal.” Enquanto dizia
essas palavras me apontou umas escadas velhas em ruína. Como ela disse para
subir, julguei ser seguro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Adeus e obrigada pelo livro. Espero te ver de novo e poder devolver
ele.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Espero que não nos vejamos, mas gostei de te conhecer. Você me lembra
muito uma pessoa que conheci há muito tempo. Tempo demais para qualquer um dessa
cidade se lembrar... Adeus guri e boa sorte!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Acabei saindo na avenida como ela falou. Peguei o caminho certo e
rotineiro e depois me vi em casa. Quando subi as escadas para avisar meu pai que
havia chegado, me surpreendi com mais visitas em seu escritório.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Muito bem senhor Ministro, acabamos de receber notícias dos rebeldes. Parece
que a comandante geral das tropas do sul foi vista pela cidade. A presença dela
aqui indica claramente guerra. O avanço deles se mostrou inevitável. Vai ser difícil
conter os esforços e acalmar os civis. Principalmente essa daí. Causou muitos
estragos no sul. Ela propaga ideias, e dizem que anda por ai com uns livros...”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Tudo bem capitão. Obrigada por me deixar ciente. Realmente com uma aparência
dessas qualquer um acredita no que diz, mas nosso governo se encontra a salvo
nas mãos de militares competentes como o senhor. Meu filho, demorou muito hoje,
o que foi, porque esse espanto?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Desculpe pai, não queria interromper a sua reunião. Eu me perdi na
cidade foi só isso. Achei que já tinha visto a garota dessa foto mas era
engano, por isso essa impressão.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Tudo bem capitão pode se retirar, e filho, vá para o seu quarto. Mais
tarde vamos ter a visita do ilustre Supremo. Quero você bem apresentável.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Entendi pai. Estou subindo então. Até mais capitão.” Quando me tranquei
no quarto pude parar para refletir sobre os acontecimentos e sobre como eu
havia conhecido e me apaixonado por uma das líderes das forças rebeldes. Agora entendia
o conselho que havia recebido. Realmente uma tempestade estava por vir. Retirei
da minha bolsa o livro e observando bem consegui ler o nome. Bíblia. Um tanto
engraçado.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 57.75pt; text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1331631942281312429.post-76507971126504524152015-03-12T12:09:00.000-07:002015-03-12T12:09:19.727-07:00Querido diário (parte I)<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Querido diário, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desculpe por andar sumida durante tanto tempo é que as coisas estavam
complicadas na escola. Estava em semana de prova e você bem sabe como sou ruim
em matemática. Tive que estudar redobrado para conseguir alcançar a media desse
mês. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estou escrevendo em você tarde, acabei de chegar da noite mais incrível
da minha vida e agora que você já me desculpou pelo sumiço posso te contar as
novidades. Lembra que comentei que o grêmio da escola estava organizando um
baile igual aqueles dos filmes americanos? Então o baile aconteceu e foi hoje!
Estou tão feliz! Espera que vou te explicar tudo do começo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Acabei de falar que tive que estudar redobrado... Então a professora
anunciou que o gratíssimo do Rodrigo ia dar monitoria para os alunos que
desejassem, e é claro que me candidatei para as aulas. Aconteceu então um
milagre! Ninguém mais queria fazer a monitoria. Fui então estudar depois das
aulas na biblioteca acreditando que iria encontrar com todo o pessoal da sala
quando chego imagina a situação! Vi o Rodrigo sozinho sentado naquela mesa dos
fundos da biblioteca me esperando. Estudamos durante a tarde toda e mais três
dias seguidos. O Rô se mostrou ser muito mais que um cara legal e bonito. Ele
também é tão engraçado e inteligente. Nunca pensei que seria tudo isso. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pois bem, estava chateada que ninguém tinha me chamado para ir ao baile
(porque o grêmio decidiu que todo mundo tinha que ter acompanhante igualzinho
os filmes) e fui para a minha última monitoria na véspera da prova meio
deprê. Rodrigo então conversou comigo
sobre a matéria, perguntou sobre o livro que estava lendo (que por sinal é
Jogos Vorazes e estou achando muito bom!), disse que já tinha lido e gostava
muito da série e inclusive perguntou se já tinha visto o filme da série. Eu disse
que não. Então ele perguntou se eu gostava de dançar e sair e tal. Eu disse que
sim, e aí ele falou que estava com vergonha, mas queria saber se eu tinha
acompanhante para o baile! Acho que paguei mico na hora porque fiquei muito
vermelha e sem graça. Senti tanto embolo no estomago que até tive vontade de
vomitar, mas respondi que sim e combinamos a hora que nos encontraríamos na
porta da escola no sábado, que seria o dia do baile. O grêmio marcou essa data
para comemorar o fim das provas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Como tudo isso foi numa quarta feira fiquei louca. Tive que arrumar
vestido, pensar no que fazer no cabelo, arrumar sapato procurar uma maquiagem
legal na internet para copiar. Nem preciso dizer que acabei não indo bem na
prova por passar a noite toda pensando na festa. Ainda bem que minha mãe não me
proibiu de ir. Fui mal, mas nem tanto assim, consegui a média na risca para
passar. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chegou o sábado e eu estava muito nervosa. Acabei usando um vestido rosa
balonê fofo que minha irmã tinha comprado para formatura do ensino médio ano
passado, mas não usou. Fim uns cachos no cabelo e olhos de gatinho na
maquiagem. Quando o Rô me viu disse que eu estava linda! A gente se divertiu e
dançou noite toda e tudo foi como um sonho! Conversamos sobre nossos gostos em
comum, sobre nossos filmes favoritos, livros que gostamos. Ele gosta das mesmas
bandas que eu! E a melhor parte vem agora, quando nos despedimos combinamos de
sair em um encontro. Amanhã ele vai me levar para o cinema para vermos a
adaptação de Jogos Vorazes. Agora vou terminar o meu livro porque não quero
levar spolier amanhã, e também dormir senão não vou aguentar acordar para
sairmos. Estou tão feliz que, mal cheguei da festa, vim escrever. Agora que te
contei a história toda, sinto que foi mesmo verdade tudo que aconteceu. Boa noite
e até amanhã com novas novidades diário. Não vejo a hora de te contar sobre o
que vai acontecer.<o:p></o:p></div>
Bia Kollenzhttp://www.blogger.com/profile/13440701859432096228noreply@blogger.com0