segunda-feira, 13 de abril de 2015

Túnel

Postado por Bia Kollenz às 07:48
   Três dias preso. Três dias trancado neste buraco. As pessoas já começam a ficar raivosas. A fome e a sede tiram a razão de qualquer um. Na noite passada ouvi gritos, tinham pessoas desesperadas chorando. Uma mulher desapareceu. No primeiro dia a coisa era diferente, todo mundo se apoiava. O plano era ajudar uns aos outros. Mas não adianta, a fome e a sede engolem a sanidade de qualquer um.
   Eu estava indo ao trabalho, era uma manhã normal de segunda. Acordei atrasado e fui desesperado pegar o ônibus. Passei pela mesma estrada que pegava todo dia, nem suspeitei quando entrei no túnel. Um estrondo, desespero e o fim. Tudo desabou. Teve carros e pessoas esmagadas, mas uma clareira se formou e os que sobraram ficaram presos afinal. Eu fiquei sem reação. Ninguém sabe o que fazer nesses momentos extremos.
   Quarto dia e agora as pessoas se agridem. Dois irmãos que sentavam ao meu lado no ônibus brigaram de manhã. Discutiram por causa da namorada do mais velho. Um matou o outro com uma pedrada. Assisti tudo atônito. A verdade dos relacionamentos cai em face ao medo. Não sei o que vai ser do próximo dia.
   Quinto dia. Acho que não vou durar muito mais. A fome e a sede me deixam acabado. Eu tento, mas mesmo respirar dói. Meu peito queima. Acho que amanhã vejo a morte.
   Sexto dia. Ouvimos mais um estrondo,  me pus a rezar. De noite uma senhora e uma criança morreram de fome. Não é outro deslizamento. São os bombeiros. Finalmente veio alguém nos ajudar. Primeiro veio o som da broca e depois fiquei cego pela luz. Ela veio do fim do túnel para anunciar que haveria outro amanhã. Não sei se sinto alívio ou medo. Nunca mais serei o mesmo.



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