Eu me apaixonei por ela em uma tarde de outono, quando a chuva cessava e o sol cismava em sair dentre as nuvens cinzas e carregadas de chuva.
A principio eu não a vi. Era só um vulto, um corpo escondido em uma capa de chuva amarela e desbotada, mas quando o vento levou aquela capa horrorosa embora eu pude ver o seu longo cabelo preto e os seus olhos azuis. Os olhos mais profundo que eu um dia vi, os olhos que traziam alegria e angustia com a mesma intensidade.
O mesmo vento que levou a chuva foi o que me trouxe o amor. Antes dela tristeza, dor, medo, alegria e amor eram só palavras e eu só conhecia a minha limitada realidade.
Me lembro de ficar ali, parado, observando-a correr atras daquela capa imunda, os seus cabelos dançando com o vento, os seus olhos brilhando entre os raios que trespassavam a chuva.
A partir daí a primeira coisa que aprendi foi a tristeza. A tristeza de não vê-la, a tristeza de não saber se um dia iria encontrá-la... Só ela eu podia sentir.
Depois me veio a alegria. Ela chegou sorrateira às seis e meia de uma quinta feira enrugada pelas ocorrência do dia. Quando achei que nada mais iria melhorar eis-me que a garota da capa surge, mais bela do que em minhas singelas memórias perguntando se podia sentar.
Conversamos durante todo o trajeto do ônibus e continuamos a conversar por mais duas horas após descermos no ponto. A alegria veio quando a beijei, quando senti seus lábios nos meus e vi toda a felicidade do mundo fluir pelas minhas veias.
O amor veio naturalmente enquanto passávamos o tempo juntos, sempre nos apoiando, sempre sorrindo, sempre cúmplices um do outro.
Agora vejo o que naquele tempo perdi. Enquanto eu mergulhava fundo nesse amor eu não pude ver que no fundo, ela desmoronava. Enquanto estávamos juntos ela se escondia em mim e eu não via o quanto ela estava sofrendo. Quando estava sozinha ela chorava e eu nunca entendi o porquê.
O medo veio quando a vi se afastar, os dias indo e nós separados, as ligações diminuindo, as visitas cada vez mais escassas. Eu me perdi na dúvida, senti a tristeza e tudo isso devido ao medo de perde-la. E aí eu enlouqueci, da forma que só o amor e o medo enlouquecem. Ninguém nunca diz mas o ciúme nos tira a razão, surge do medo da perda e desse medo nada de bom pode surgir.
Então eu fiz o que nunca deveria ter feito, eu que era a única âncora que a mantinha ali viva, parti. Mas não antes antes dizer o porquê, o porquê que nem mesmo lembro mais.
Perdi ela a mais de vinte metros do chão. Senti a dor, a dor do amor partido jogado junto do seu corpo. Dor em todos os lados, dor em todos os cantos da minha vida. E até hoje me lembro de seu rosto, a procuro em todos os lugares, luto para voltar àquela tarde de outono, a tarde em que conheci o meu amor. Vivo esperando a volta desse dia para conseguir dizer o quanto a amo, tudo, é isso que ela significa para mim... Nem estes trinta longos anos foram suficientes para esquecer da dor que senti quando não corri o suficiente para pegar nas suas mãos, puxa-la para perto e a impedir. Toda noite me lembro daquela cena. Ela pulando para um abismo vazio de onde nunca mais iria sair.
Beatriz Kollenz
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