quinta-feira, 26 de março de 2015

Estrelas

Postado por Bia Kollenz às 07:44
   A luz acabou hoje na cidade, lá fora está tudo escuro. Talvez minha vida seja assim: negra, medonha, vazia. Não tenho mais nada para fazer em casa. Eu acabo começando a pensar. Penso em mim, nas coisas que vivi. Os momentos bons e principalmente os ruins. Acho que quando a luz se foi levou embora toda a esperança.
  Quando eu era pequena, costumava temer o escuro. Minha mãe vinha e me abraçava, dizia que ia ficar tudo bem, que eu podia deitar ao seu lado. Papai era diferente, não gostava de me ver ali. Eu chorava e me arrastava quietinha para o pé da cama, deitava no chão e rezava para ele não me mandar de volta para o quarto.
   Foi desde muito cedo que eu aprendi que às vezes as pessoas simplesmente não gostam de você. Eu pensava que se mudasse, as coisas iriam melhorar, era só eu ser do jeito que elas queriam. Entretanto aprendi a partir disso que não adianta mudar pelos outros, você só se torna mais estranha e deprimente. E continua sozinha.
   Fui caminhando assim. Os outros riam de mim, eu ria então de mim mesma. Melhor que chorar. Mas o tempo foi passando, não era mais o fato de ser esquisita, era também se ser feia, e chata, e o que eu já nem sei mais. Eu nunca entendi o porquê de ninguém gostar dos estranhos. O que tem de mal em ser diferente?
   Os anos passavam, uma amizade surgia ali, outra depois se perdia. O casamento dos meus pais que achava lindo e que iria durar para sempre acabou. Ficamos sozinhas. Papai nem veio para dizer adeus. Os anos correm. O ciclo continua. Acompanhada, sozinha, sozinha, amigos, estranha, sozinha, esquisita, gostamos de você, pensando bem não gostamos... Quando vi, ficou tudo vazio. Eu tinha um sonho? O que eu queria quando criança? Eu consegui alguma coisa com tudo isso? Eu estou chegando a algum lugar? As perguntas perturbam. Você se acha incapaz. A pior parte de a vida ser um ciclo, é que você nem estar sempre vai estar no alto. Uma hora as coisas viram e você acaba no chão.
   A luz partiu. Ficar em casa estava me matando. Para fugir dos meus pensamentos, corri para a rua. Surpreendi-me, as estrelas brilham mais do que o sol. Acho que entendo um pouco no final. Se nunca existisse a dor e o escuro, nunca veríamos como são belas as luzes da noite. Talvez as coisas melhorem um dia. Quem sabe, por minha vida estar agora tão negra, eu finalmente veja a luz.

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