quarta-feira, 11 de março de 2015

Seasons

Postado por Bia Kollenz às 07:07
   Eles se conheceram na primavera quando tudo era mais feliz e colorido. Nas ruas as árvores brilhavam em flor. Ele sorriu para ela. Pediu desculpas quando derrubou o sorvete sujando toda a camisa. Ela disse que não era nada demais. Saíram juntos e se divertiram. Ela nunca tinha sido mais feliz na vida. Ele era tudo o que ela sempre sonhou.
   Foi num verão que se casaram. Vestida de branco ela entrou na igreja. Todos os amigos e familiares choravam. Enquanto seu pai a levava ao altar não aguentou. Chorou também. Disseram sim e se beijaram durante toda lua de mel. Parecia que a felicidade nunca teria fim.
   Era outono quando as dívidas chegaram. A casa nova era meio cara de se sustentar. Para isso trabalhava até tarde em dois empregos. Já ele se sentia inútil por estar desempregado. O cachorro deles fugiu quando entravam pelo portão. Um carro passou por cima dele. Brigaram até tarde da noite. Ele foi embora batendo a porta e ela chorou abraçada no travesseiro. Chorou até as lágrimas secarem e o cheiro dele sumir dali.
   O inverno corria quando ele voltou. Estava bêbado e fedorento. Não era mais o mesmo de antes. Não ajudava, não ria, só bebia o dia inteiro. Quando ela desagradava ele a agredia. Perguntava a Deus até quando isso iria durar. Durou até ela ir parar em um hospital. Cinco pontos na testa e um braço quebrado. O que o laudo não dizia era que seu coração também estava partido.
   Foi numa primavera que ela criou coragem, juntou todas as coisas que conseguiu e saiu de casa sem avisar. Deixou para trás o dinheiro e os documentos. Lembrou de levar a esperança. Mudou para a casa de uma amiga. Tratou de curar os machucados e o coração. Reaprendeu a confiar. Só não aprendeu a amar de novo. Isso ainda era um bocado difícil.
   É verão novamente. Se você olhar pela janela vai vê-la passando. Quem vê seu sorriso nem imagina o que aconteceu. Não carrega raiva, rancor ou ódio. Reaprendeu a amar. Só não encontrou alguém que mereça o seu coração. Ainda. Não tem medo. No lugar dele nasceram novos sonhos. Caminhou pela calçada até chegar à sorveteria. Pediu o de sempre e partiu.


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