sexta-feira, 6 de março de 2015

Felino

Postado por Bia Kollenz às 09:17
   Pessoas sempre lhe pareceram estranhas. Eram criaturas deselegantes e barulhentas, sempre apressadas e desesperadas por alguma coisa. Nunca pareciam se importar com os outros seres que existiam no mundo. Tão centradas em si mesmas. Tão hipócritas e tão mesquinhas. Destruindo o mundo sem se importar com o futuro. Vivendo em uma sociedade que mais parecia uma prisão. Prisão essa que construíram ao redor de si mesmas como se não quisessem um dia encontrar a felicidade.
    Mas havia uma pessoa que lhe parecia diferente. Ela sempre lhe dava afeto e carinho, sempre com algum mimo, algum cuidado. Sempre existindo pelos outros. Existia também por ele. Quando as coisas estavam difíceis era a hora de ele entrar em ação. Retribuía todo o amor que recebia dela. Chegava de mansinho, se aconchegava em seu colo, tentava fazê-la entender que quando menos esperasse as coisas iriam mudar. E iriam mudar para melhor. Havia justiça no mundo para as boas criaturas, e ela era o exemplo máximo de algo bom.
   De vez em quando ele lhe dava algum presente. O que conseguia caçar. Uma lagartixa, um rato. Apesar de não ser muito do feitio dela, ele tentava. Afinal o que um pobre gato tinha para oferecer a sua dona? Ela que sempre o alimentava, afagava e protegia de todo o mal que existia lá fora. De todos aqueles humanos maus e mesquinhos. Humanos que maltratavam não só os animais, mas a seus semelhantes também. Machucavam e feriam seus iguais por mesquinharias. Matavam por pedaços de papel.
  Nesse dia ela chegou do emprego cansada como sempre. Deixou a bolsa no canto do quarto, largou os sapatos pelo chão e suspirou exausta. Ela se esqueceu de lavar os cabelos, de trocar de roupa, mas lembrou de colocar o jantar do pobre gato no pote. Lembrou-se de trocar a água dele por uma fresquinha, logo antes de pular na cama ainda de uniforme, para finalmente descansar.

   Mal ela encostou no travesseiro, dormiu. Então ele fez o que mais era de seu agrado. Deitou ao seu lado e a assistiu dormir. Tentou passar todo o amor que ela, mais do que ninguém no mundo, merecia. Afinal, pelo menos isso um gato podia oferecer. Podia estar lá quando ela acordasse. Esperava que um dia o mundo vivesse sob a lei dos gatos. Lei essa que faria do mundo, finalmente um lugar feliz. 

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