Pessoas sempre lhe pareceram estranhas. Eram criaturas deselegantes e
barulhentas, sempre apressadas e desesperadas por alguma coisa. Nunca pareciam
se importar com os outros seres que existiam no mundo. Tão centradas em si
mesmas. Tão hipócritas e tão mesquinhas. Destruindo o mundo sem se importar com
o futuro. Vivendo em uma sociedade que mais parecia uma prisão. Prisão essa que
construíram ao redor de si mesmas como se não quisessem um dia encontrar a
felicidade.
Mas
havia uma pessoa que lhe parecia diferente. Ela sempre lhe dava afeto e
carinho, sempre com algum mimo, algum cuidado. Sempre existindo pelos outros.
Existia também por ele. Quando as coisas estavam difíceis era a hora de ele
entrar em ação. Retribuía todo o amor que recebia dela. Chegava de mansinho, se
aconchegava em seu colo, tentava fazê-la entender que quando menos esperasse as
coisas iriam mudar. E iriam mudar para melhor. Havia justiça no mundo para as
boas criaturas, e ela era o exemplo máximo de algo bom.
De vez em quando ele lhe dava algum presente. O que conseguia caçar. Uma
lagartixa, um rato. Apesar de não ser muito do feitio dela, ele tentava. Afinal
o que um pobre gato tinha para oferecer a sua dona? Ela que sempre o alimentava,
afagava e protegia de todo o mal que existia lá fora. De todos aqueles humanos
maus e mesquinhos. Humanos que maltratavam não só os animais, mas a seus
semelhantes também. Machucavam e feriam seus iguais por mesquinharias. Matavam
por pedaços de papel.
Nesse dia ela chegou do emprego cansada como sempre. Deixou a bolsa no
canto do quarto, largou os sapatos pelo chão e suspirou exausta. Ela se
esqueceu de lavar os cabelos, de trocar de roupa, mas lembrou de colocar o jantar
do pobre gato no pote. Lembrou-se de trocar a água dele por uma fresquinha, logo
antes de pular na cama ainda de uniforme, para finalmente descansar.
Mal ela encostou no travesseiro, dormiu. Então ele fez o que mais era de
seu agrado. Deitou ao seu lado e a assistiu dormir. Tentou passar todo o amor
que ela, mais do que ninguém no mundo, merecia. Afinal, pelo menos isso um gato
podia oferecer. Podia estar lá quando ela acordasse. Esperava que um dia o
mundo vivesse sob a lei dos gatos. Lei essa que faria do mundo, finalmente um
lugar feliz.
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